Clara e João Roberto se conheceram há poucos dias e não demorou muito para que se tornassem amigos. Além da admiração e do carinho que existia, o que mais se sobressaia era a cumplicidade que se fazia presente. Era como se ambos já se conhecessem há muito tempo. Era como se não tivessem nada a esconder um do outro. Uma amizade bonita.
Num dia desses, passando pela praça em um destes encontros casuais, resolveram parar para um sorvete. Clara escolheu o de flocos com uma densa camada de calda de morangos, que por sinal era o seu preferido. João Roberto pegou o de creme com calda de caramelo, bastante castanha e dois canudos de chocolate. Sentaram num banquinho ali por perto e começaram a conversar.
Subitamente notaram um barulhinho que vinha de longe, como se fossem risadas ou então, uma música bem animada. Não tardou a curiosidade tomar conta para João Roberto acabar puxando Clara pelo braço.
Enfiaram-se numa trilha de árvores frondosas que dava diretamente ao zoológico municipal. Tinham certeza de que o barulho vinha dali. Porém, perceberam um caminho tão diferente daquele que conheciam: tudo em um tom de verde mais intenso, mais iluminado, mais bonito. Avançaram. O som se mostrava cada vez mais próximo quando Clara se deu conta de que borboletas, em perfeita sincronia, pareciam querer mostrar o caminho de onde vinha aquela melodia curiosa. Seguiram-nas.
Chegaram numa casinha com um quê de rusticidade, flores na varanda e uma plaquinha ao lado da porta da frente. Ambos pararam e de cócoras leram o que estava escrito logo abaixo: ‘Sejam bem vindos! Podem entrar.’
Os dois se olharam entre felizes e espantados. Meu Deus! Que lugar é esse? Obedeceram a plaquinha e giraram a maçaneta da porta.
Ao abri-la, depararam-se com algo surpreendente: crianças de todos os tamanhos corriam de um lado a outro da casa em meio a peraltices, gozando da liberdade que tinham. As risadas eram estridentes. Só havia espaço para a felicidade naquele lugar.
Rapidamente, algumas vieram na direção de João Roberto e puxaram-no para umas brincadeiras. Outras convidaram Clara pra um chá de mentirinha.
A garota, em dúvida, olhava para o parceiro sem entender a situação. Ele retribuía o olhar entre sorrisos e semblantes engraçados, como quem diz: ‘Clarinha, aproveita isso tudo aí que lhe é oferecido. Será que, pelo menos, daria para você deixar um pouco de lado os seus porquês e saborear o seu chá, por favor?’ Era só o que ela queria. E foi isso o que fez.
De todas aquelas crianças que brincavam no salão, uma, em especial, chamou mais a atenção dos dois amigos. Era uma pequena que aparentava ter uns 5 ou 6 anos de idade, mulatinha espivitada com algumas trancinhas envoltas a lacinhos de fita coloridos na cabeça. A impressão era de que havia perdido os dois dentes de leite da frente há algumas semanas, pois, ambos começavam a apontar em sua gengiva infantil. Seu sorriso era o mais perfeito e o mais encantador de todos.
Aquela ali não deixava João Roberto de lado por nada. Durante o pega-pega, era só dele que ela corria atrás. No futebol, só passava a bola para ele. No corre cotia, o lencinho branco sempre caía no chão atrás do preferido. E assim fazia em todas as outras brincadeiras: peteca, passa anel, outros piques.
No momento em que as crianças se reuniram para a ciranda, a pequena veio ao encontro de João Roberto para dar-lhe um abraço. Ele a pegou no colo e a rodou por um instante no ar, feito passarinho. Ao coloca-la de volta ao chão, meio tonta, João Roberto ofereceu uma bala à criança que sem muito pensar, aceitou. A grande roda já estava quase formada. A pequena envolveu o braço de João Roberto de um lado e de Clara do outro. Sentia um carinho especial por Clara também. Eram notáveis seus sorrisos a ela.
Cantaram, brincaram, rodaram.
Escutou-se, logo após a ciranda, o som de sinos repicando do lado de fora da casa. Clara olhou para seu relógio e se assustou ao ver que os ponteiros não se mexiam. Cutucou-o por um tempo sem sucesso e praguejou algumas palavras contra o aparelho. As crianças começaram a deixar o cômodo. Subiram as escadas a fim de se recolherem depois de uma tarde inebriante, porém, cansativa. Era hora de ir embora. A porta da casa se abriu instantaneamente e quando, após a despedida, Clara e João Roberto foram em direção à porta acabaram sendo surpreendidos pela mulatinha. A garota abraçou João Roberto e lhe deu um beijo gostoso do lado esquerdo do rosto depositando em seu bolso algo que ele preferiu descobrir depois. Ao lado, Clara esperava ansiosa por um beijo da garota. Infelizmente ele não veio. A pequena puxou Clara para um abraço e ao se aproximar de seu ouvido suspirou sem segredos: ‘Cuida dele pra mim?’ João Roberto sorriu em silêncio. Clara se afastou um pouco e fez que sim com a cabeça. Já a garota saiu correndo em disparada e sumiu ao subir pelas escadas.
Ao saírem, perceberam a porta bater logo atrás deles. João Roberto não se conteve de curiosidade e, no mesmo instante, enfiou a mão no bolso e tirou o que havia sido deixado pela pequena. Ao abrir sua mão direita, deparou-se com o papel de bala recém inaugurado, meio amassado, e ainda melado. Desdobrou-o. Nele seguia com letras miúdas e muito coloridas o recado da pequena: ‘Cuida dela pra mim também?’
Num dia desses, passando pela praça em um destes encontros casuais, resolveram parar para um sorvete. Clara escolheu o de flocos com uma densa camada de calda de morangos, que por sinal era o seu preferido. João Roberto pegou o de creme com calda de caramelo, bastante castanha e dois canudos de chocolate. Sentaram num banquinho ali por perto e começaram a conversar.
Subitamente notaram um barulhinho que vinha de longe, como se fossem risadas ou então, uma música bem animada. Não tardou a curiosidade tomar conta para João Roberto acabar puxando Clara pelo braço.
Enfiaram-se numa trilha de árvores frondosas que dava diretamente ao zoológico municipal. Tinham certeza de que o barulho vinha dali. Porém, perceberam um caminho tão diferente daquele que conheciam: tudo em um tom de verde mais intenso, mais iluminado, mais bonito. Avançaram. O som se mostrava cada vez mais próximo quando Clara se deu conta de que borboletas, em perfeita sincronia, pareciam querer mostrar o caminho de onde vinha aquela melodia curiosa. Seguiram-nas.
Chegaram numa casinha com um quê de rusticidade, flores na varanda e uma plaquinha ao lado da porta da frente. Ambos pararam e de cócoras leram o que estava escrito logo abaixo: ‘Sejam bem vindos! Podem entrar.’
Os dois se olharam entre felizes e espantados. Meu Deus! Que lugar é esse? Obedeceram a plaquinha e giraram a maçaneta da porta.
Ao abri-la, depararam-se com algo surpreendente: crianças de todos os tamanhos corriam de um lado a outro da casa em meio a peraltices, gozando da liberdade que tinham. As risadas eram estridentes. Só havia espaço para a felicidade naquele lugar.
Rapidamente, algumas vieram na direção de João Roberto e puxaram-no para umas brincadeiras. Outras convidaram Clara pra um chá de mentirinha.
A garota, em dúvida, olhava para o parceiro sem entender a situação. Ele retribuía o olhar entre sorrisos e semblantes engraçados, como quem diz: ‘Clarinha, aproveita isso tudo aí que lhe é oferecido. Será que, pelo menos, daria para você deixar um pouco de lado os seus porquês e saborear o seu chá, por favor?’ Era só o que ela queria. E foi isso o que fez.
De todas aquelas crianças que brincavam no salão, uma, em especial, chamou mais a atenção dos dois amigos. Era uma pequena que aparentava ter uns 5 ou 6 anos de idade, mulatinha espivitada com algumas trancinhas envoltas a lacinhos de fita coloridos na cabeça. A impressão era de que havia perdido os dois dentes de leite da frente há algumas semanas, pois, ambos começavam a apontar em sua gengiva infantil. Seu sorriso era o mais perfeito e o mais encantador de todos.
Aquela ali não deixava João Roberto de lado por nada. Durante o pega-pega, era só dele que ela corria atrás. No futebol, só passava a bola para ele. No corre cotia, o lencinho branco sempre caía no chão atrás do preferido. E assim fazia em todas as outras brincadeiras: peteca, passa anel, outros piques.
No momento em que as crianças se reuniram para a ciranda, a pequena veio ao encontro de João Roberto para dar-lhe um abraço. Ele a pegou no colo e a rodou por um instante no ar, feito passarinho. Ao coloca-la de volta ao chão, meio tonta, João Roberto ofereceu uma bala à criança que sem muito pensar, aceitou. A grande roda já estava quase formada. A pequena envolveu o braço de João Roberto de um lado e de Clara do outro. Sentia um carinho especial por Clara também. Eram notáveis seus sorrisos a ela.
Cantaram, brincaram, rodaram.
Escutou-se, logo após a ciranda, o som de sinos repicando do lado de fora da casa. Clara olhou para seu relógio e se assustou ao ver que os ponteiros não se mexiam. Cutucou-o por um tempo sem sucesso e praguejou algumas palavras contra o aparelho. As crianças começaram a deixar o cômodo. Subiram as escadas a fim de se recolherem depois de uma tarde inebriante, porém, cansativa. Era hora de ir embora. A porta da casa se abriu instantaneamente e quando, após a despedida, Clara e João Roberto foram em direção à porta acabaram sendo surpreendidos pela mulatinha. A garota abraçou João Roberto e lhe deu um beijo gostoso do lado esquerdo do rosto depositando em seu bolso algo que ele preferiu descobrir depois. Ao lado, Clara esperava ansiosa por um beijo da garota. Infelizmente ele não veio. A pequena puxou Clara para um abraço e ao se aproximar de seu ouvido suspirou sem segredos: ‘Cuida dele pra mim?’ João Roberto sorriu em silêncio. Clara se afastou um pouco e fez que sim com a cabeça. Já a garota saiu correndo em disparada e sumiu ao subir pelas escadas.
Ao saírem, perceberam a porta bater logo atrás deles. João Roberto não se conteve de curiosidade e, no mesmo instante, enfiou a mão no bolso e tirou o que havia sido deixado pela pequena. Ao abrir sua mão direita, deparou-se com o papel de bala recém inaugurado, meio amassado, e ainda melado. Desdobrou-o. Nele seguia com letras miúdas e muito coloridas o recado da pequena: ‘Cuida dela pra mim também?’
ps: Eles contam por aí que ainda escutam umas risadas distantes sempre que passam pela praça, mas a casinha, essa sim nunca mais apareceu.
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