domingo, 26 de outubro de 2008

Sobre rodas

Carrega consigo um sonho de criança
Mas o medo sempre a impediu de realizá-lo
Num dia desses, tomou coragem e calçou um par em seus pés
Foi pra frente, foi pra trás
Deslizou desajeitadamente
Caiu de quatro
Esfolou os joelhos
Riu ao final
Sonho realizado

ps: como doeu!

sábado, 25 de outubro de 2008

Casinha pequenina

Clara e João Roberto se conheceram há poucos dias e não demorou muito para que se tornassem amigos. Além da admiração e do carinho que existia, o que mais se sobressaia era a cumplicidade que se fazia presente. Era como se ambos já se conhecessem há muito tempo. Era como se não tivessem nada a esconder um do outro. Uma amizade bonita.
Num dia desses, passando pela praça em um destes encontros casuais, resolveram parar para um sorvete. Clara escolheu o de flocos com uma densa camada de calda de morangos, que por sinal era o seu preferido. João Roberto pegou o de creme com calda de caramelo, bastante castanha e dois canudos de chocolate. Sentaram num banquinho ali por perto e começaram a conversar.
Subitamente notaram um barulhinho que vinha de longe, como se fossem risadas ou então, uma música bem animada. Não tardou a curiosidade tomar conta para João Roberto acabar puxando Clara pelo braço.
Enfiaram-se numa trilha de árvores frondosas que dava diretamente ao zoológico municipal. Tinham certeza de que o barulho vinha dali. Porém, perceberam um caminho tão diferente daquele que conheciam: tudo em um tom de verde mais intenso, mais iluminado, mais bonito. Avançaram. O som se mostrava cada vez mais próximo quando Clara se deu conta de que borboletas, em perfeita sincronia, pareciam querer mostrar o caminho de onde vinha aquela melodia curiosa. Seguiram-nas.
Chegaram numa casinha com um quê de rusticidade, flores na varanda e uma plaquinha ao lado da porta da frente. Ambos pararam e de cócoras leram o que estava escrito logo abaixo: ‘Sejam bem vindos! Podem entrar.’
Os dois se olharam entre felizes e espantados. Meu Deus! Que lugar é esse? Obedeceram a plaquinha e giraram a maçaneta da porta.
Ao abri-la, depararam-se com algo surpreendente: crianças de todos os tamanhos corriam de um lado a outro da casa em meio a peraltices, gozando da liberdade que tinham. As risadas eram estridentes. Só havia espaço para a felicidade naquele lugar.
Rapidamente, algumas vieram na direção de João Roberto e puxaram-no para umas brincadeiras. Outras convidaram Clara pra um chá de mentirinha.
A garota, em dúvida, olhava para o parceiro sem entender a situação. Ele retribuía o olhar entre sorrisos e semblantes engraçados, como quem diz: ‘Clarinha, aproveita isso tudo aí que lhe é oferecido. Será que, pelo menos, daria para você deixar um pouco de lado os seus porquês e saborear o seu chá, por favor?’ Era só o que ela queria. E foi isso o que fez.
De todas aquelas crianças que brincavam no salão, uma, em especial, chamou mais a atenção dos dois amigos. Era uma pequena que aparentava ter uns 5 ou 6 anos de idade, mulatinha espivitada com algumas trancinhas envoltas a lacinhos de fita coloridos na cabeça. A impressão era de que havia perdido os dois dentes de leite da frente há algumas semanas, pois, ambos começavam a apontar em sua gengiva infantil. Seu sorriso era o mais perfeito e o mais encantador de todos.
Aquela ali não deixava João Roberto de lado por nada. Durante o pega-pega, era só dele que ela corria atrás. No futebol, só passava a bola para ele. No corre cotia, o lencinho branco sempre caía no chão atrás do preferido. E assim fazia em todas as outras brincadeiras: peteca, passa anel, outros piques.
No momento em que as crianças se reuniram para a ciranda, a pequena veio ao encontro de João Roberto para dar-lhe um abraço. Ele a pegou no colo e a rodou por um instante no ar, feito passarinho. Ao coloca-la de volta ao chão, meio tonta, João Roberto ofereceu uma bala à criança que sem muito pensar, aceitou. A grande roda já estava quase formada. A pequena envolveu o braço de João Roberto de um lado e de Clara do outro. Sentia um carinho especial por Clara também. Eram notáveis seus sorrisos a ela.
Cantaram, brincaram, rodaram.
Escutou-se, logo após a ciranda, o som de sinos repicando do lado de fora da casa. Clara olhou para seu relógio e se assustou ao ver que os ponteiros não se mexiam. Cutucou-o por um tempo sem sucesso e praguejou algumas palavras contra o aparelho. As crianças começaram a deixar o cômodo. Subiram as escadas a fim de se recolherem depois de uma tarde inebriante, porém, cansativa. Era hora de ir embora. A porta da casa se abriu instantaneamente e quando, após a despedida, Clara e João Roberto foram em direção à porta acabaram sendo surpreendidos pela mulatinha. A garota abraçou João Roberto e lhe deu um beijo gostoso do lado esquerdo do rosto depositando em seu bolso algo que ele preferiu descobrir depois. Ao lado, Clara esperava ansiosa por um beijo da garota. Infelizmente ele não veio. A pequena puxou Clara para um abraço e ao se aproximar de seu ouvido suspirou sem segredos: ‘Cuida dele pra mim?’ João Roberto sorriu em silêncio. Clara se afastou um pouco e fez que sim com a cabeça. Já a garota saiu correndo em disparada e sumiu ao subir pelas escadas.
Ao saírem, perceberam a porta bater logo atrás deles. João Roberto não se conteve de curiosidade e, no mesmo instante, enfiou a mão no bolso e tirou o que havia sido deixado pela pequena. Ao abrir sua mão direita, deparou-se com o papel de bala recém inaugurado, meio amassado, e ainda melado. Desdobrou-o. Nele seguia com letras miúdas e muito coloridas o recado da pequena: ‘Cuida dela pra mim também?’

ps: Eles contam por aí que ainda escutam umas risadas distantes sempre que passam pela praça, mas a casinha, essa sim nunca mais apareceu.

quinta-feira, 9 de outubro de 2008

Era mesmo o fim

Eu havia chegado e olhava-o de longe. A cada passo dado por mim era um aperto a mais que sentia dentro do peito. Eu queria não acreditar na razão para esse encontro à tarde em plena segunda-feira naquele mesmo lugar de sempre, mas foi irrelevante. Pela ligação do dia anterior eu já sabia o que iria sair da boca dele. E o pior de tudo era saber ainda mais que ele não iria mudar de opinião.
Me aproximei, sentei ao seu lado e com os olhos marejados com os restos de lágrimas da noite anterior encareio-o e esperei-o dizer tudo aquilo que queria. Notava-o meio sem jeito, sem graça, e me apresentava um olhar triste. Aquele mesmo olhar que eu tentava e, por muitas vezes, conseguia reverter quando algo o perturbava ou o desanimava. Mas naquele dia eu fraquejei.
-Olha, eu realmente não sei como te dizer isso, mas... –gaguejando e abaixando a cabeça.
-Mas... –neste momento uma lágrima minha foi derramada. –Me diz de uma vez o que você tem para me dizer que não pôde revelar ontem pelo telefone. –duas, três lágrimas, até que me desesperei. E pensava comigo: por favor, não diga o que eu penso que vai dizer, diz pra mim que pensou melhor e viu que estava completamente equivocado. Diz que ainda me ama como disse na semana anterior. Me dá logo um abraço e um daqueles beijos que só você sabe me dar e suspira baixinho ao meu ouvido que eu sou a mulher da sua vida.
-Eu realmente andei pensando e... Acabou! Eu não te amo mais.
Fez-se um instante em silêncio. Era estranho o fato de eu não ter tido vontade de falar qualquer coisa, não me expressar. Naquele momento eu não conseguia pensar em absolutamente nada. Estava vazia. Estava oca por dentro.
-Mas me promete que vai ficar bem? Refleti muito sobre nós dois e cheguei à conclusão de que...
-Ok! Acho que o que você queria dizer já foi dito. Agora, o que eu quero mesmo é ir embora.

ps: Ah! Esses momentos que surgem de repente na cabeça da gente em dias menos convenientes a lembranças angustiantes.

sábado, 4 de outubro de 2008

Trilha Sonora


1- Notas de abertura:
Sintaxe à Vontade (O Teatro Mágico)

2- Quando veio ao mundo:
No Recreio (Nando Reis)

3- Primeiros passos:
Cria (Maria Rita)

4- Infância:
Oito Anos (Adriana Calcanhotto)

5- Primeiro dia na escola:
O Caderno (Chico Buarque)

6- Aquele amor platônico:
Por Você (Barão Vermelho)

7- Churrascos em família:
Samba do Arnesto (Demônios da Garoa)

8- Adolescência:
Tchubaruba (Mallu Magalhães)

9- Primeiro beijo:
Amor I Love You (Marisa Monte)

10- Ao se apaixonar:
Espatódea (Nando Reis)

11- Erros e arrependimentos:
Failure (Kings of Convenience)

12- Desilusões amorosas:
50 Receitas (Leoni)

13- Personalidade:
A Ana (Ana Cañas)

14- Amizade:
Canção da América (Milton Nascimento)

15- Vida:
Menina da Lua (Maria Rita)

16- Em pensamentos:
Infinito Particular (Marisa Monte)

17- Depressão:
Stronger Than Me (Amy Winehouse)

18- Festinhas noturnas:
Promiscuous (Nelly Furtado)

19- Formatura:
Ai, ai, ai (Vanessa da Mata)

20- Pré-Vestibular:
O que será, que será, à flor da pele (Chico Buarque)

21- Fim de namoro:
Adeus Você (Los Hermanos)

22- Dor de cotovelo:
Same Mistake (James Blunt)

23- Faculdade:
Rise Up (Bob Sinclair)

24- Labutando:
Juventude Transviada (Cássia Eller)

25- Pegando a estrada:
Suddenly I See (KT Tunstall)

26- Subindo ao altar:
Todo Azul do Mar (Roupa Nova)

27- Lua-de-mel:
Último Romance (Los Hermanos)

28- Nascimento do filho:
Fico Assim Sem Você (Adriana Calcanhotto)

39- Família reunida na sala de estar:
Aquarela (Toquinho)

30- Bodas:
Andanças (Beth Carvalho)

31- Cabelos brancos:
Vida Boa (Victor e Leo)

32- Num outro lugar:
Tears In Haven (Eric Clapton)

33- Créditos finais:
La Valse d’Amélie (Yann Tiersen)

Despedida

Foi numa dessas festas noturnas: música alta, agitação, vai-e-vem de pessoas pelo salão abafado. Pela primeira vez eu não me encontrava em meu juízo perfeito.
De longe, avistei aquele que um dia fui capaz de jurar amor eterno.
Como já era esperado, alguém o acompanhava. Alguém que eu já imaginava. Alguém que um dia ele duvidou que faria parte de sua vida.
Subitamente, consegui percebê-lo cada vez mais próximo a mim. Me olhava um olhar tão penetrante que eu, se não fosse por pouco, me renderia completamente.
Ele veio correndo ao meu encontro, mas já era tarde demais para que pudesse concluir o seu objetivo.
Eu havia sumido na multidão.

(uma história escutada dias atrás)