Acordou mais cedo. Como todas as outras vezes, pôde escutar o barulho do silêncio dentro da casa ao passar pelo corredor semi-iluminado. Porém, sentia como se não estivesse sozinha. Algo estranho tomava conta de seu corpo recém acordado, e sonolento, mas preferiu encarar aquela madrugada como outra qualquer. Caminhou em direção à copa e sentou-se na poltrona acolchoada para iniciar seus estudos.
Digamos que o desespero ainda não havia apontado, mas a prova do mesmo dia com certeza a tirava o equilíbrio, a ponto de faze-la não pensar em outra coisa pelo resto do dia. Enquanto todos dormiam, era ela que estava ali, quebrando a cabeça para entender de física (a matéria da faculdade considerada a mais difícil).
Sabia que poderia estar ali no mesmo lugar, mergulhada em algum livro de João Guimarães, principalmente aquele em que se faz presente a trama psicológica conflitante do sertanejo narrador. É fato que a releitura, naquele dia, seria bem mais interessante que exercitar o v(aoquadrado)= v(zero)(aoquadrado) mais 2a(delta)(s). Mas não poderia se dar ao luxo naquele momento. Questão de escolha.
O despertador tocou às 5h30 da manhã, acompanhado pelas pisadelas da mãe pelo corredor até a cozinha para, como de costume, preparar o café do marido que se vestia apressado para mais um dia de trabalho.
Pelo caminho, a garota notava os sorrisos simpáticos da mãe que passava lentamente pela copa e não parava - Bom dia, minha filha! - dizia baixinho. Sabia que o fato principal para não chegar mais perto era o de não lhe tirar a preciosa atenção. No máximo, era o café forte com bolachas que lhe era oferecido para que se mantivesse acordada.
Digamos que o desespero ainda não havia apontado, mas a prova do mesmo dia com certeza a tirava o equilíbrio, a ponto de faze-la não pensar em outra coisa pelo resto do dia. Enquanto todos dormiam, era ela que estava ali, quebrando a cabeça para entender de física (a matéria da faculdade considerada a mais difícil).
Sabia que poderia estar ali no mesmo lugar, mergulhada em algum livro de João Guimarães, principalmente aquele em que se faz presente a trama psicológica conflitante do sertanejo narrador. É fato que a releitura, naquele dia, seria bem mais interessante que exercitar o v(aoquadrado)= v(zero)(aoquadrado) mais 2a(delta)(s). Mas não poderia se dar ao luxo naquele momento. Questão de escolha.
O despertador tocou às 5h30 da manhã, acompanhado pelas pisadelas da mãe pelo corredor até a cozinha para, como de costume, preparar o café do marido que se vestia apressado para mais um dia de trabalho.
Pelo caminho, a garota notava os sorrisos simpáticos da mãe que passava lentamente pela copa e não parava - Bom dia, minha filha! - dizia baixinho. Sabia que o fato principal para não chegar mais perto era o de não lhe tirar a preciosa atenção. No máximo, era o café forte com bolachas que lhe era oferecido para que se mantivesse acordada.
Continuou com os exercícios. 9h37. Cansou. Olhos pesados de sono. Mas tinha que continuar. Sabia que não poderia parar.
Deitou sobre os cadernos e imaginou-se na casa dos avós maternos. Por um instante pensou que sonhava acordada, mas o pensamento logo logo foi desviado para outro plano, involuntariamente.
Entrou na casa dos avós que cheirava a almoço recém preparado. Passou pela sala da frente sem alarde, e finalmente a cozinha. Parou na porta e avistou seu avô encostado na pia finalizando algumas panelas sujas e ao mesmo tempo adoçando um suco avermelhado logo ao lado. No canto, para sua surpresa, deparou-se com a avó sentada na mesma cadeira de rodas antiga e acinzentada, aos prantos. A garota se aproximou e agachou próximo à avó que a olhou fundo nos olhos como se pedisse socorro sem saber como dizer. Chamou o avô, mas não obteve nenhuma reação. Era como se estivessem em lugares diferentes estando no mesmo lugar. Naquele contexto, compreendeu que eram somente ela e sua avó.
A senhora de cabelos grisalhos era a mesma que a de 7 anos atrás: alva, bonita, simples, que apesar do choro, ainda conseguia exibir o mesmo sorriso singelo em um dos cantos da boca. Sorrir era o que ela fazia de melhor.
‘O que acontece, vó? A senhora não sabe como me entristece olhar seus olhos marejados com estas lágrimas. Me diz o que posso fazer para ajudar?’ E a avó não respondia, não falava sequer uma palavra. Só observava, só olhava um olhar distante.
Então, a garota levantou-se erguendo os braços para a velha senhora. E a abraçou fortemente passando a mão direita sobre os seus cabelos lisos. ‘Como sinto a sua falta vó. Como sinto..’
‘Minha filha. Minh.. Você acabou pegando no sono. Pensei se te deixava descansar um pouco mais ou se te acordava para estudar para sua prova. Optei pela segunda opção.
Ah! Sem problemas, mãe. Preciso mesmo terminar alguns exercícios e ir muito bem nesta prova de hoje. Foi bom você ter me acordado. Obrigada mesmo. Vou ao banheiro jogar um pouco d’água no meu rosto.'
Deitou sobre os cadernos e imaginou-se na casa dos avós maternos. Por um instante pensou que sonhava acordada, mas o pensamento logo logo foi desviado para outro plano, involuntariamente.
Entrou na casa dos avós que cheirava a almoço recém preparado. Passou pela sala da frente sem alarde, e finalmente a cozinha. Parou na porta e avistou seu avô encostado na pia finalizando algumas panelas sujas e ao mesmo tempo adoçando um suco avermelhado logo ao lado. No canto, para sua surpresa, deparou-se com a avó sentada na mesma cadeira de rodas antiga e acinzentada, aos prantos. A garota se aproximou e agachou próximo à avó que a olhou fundo nos olhos como se pedisse socorro sem saber como dizer. Chamou o avô, mas não obteve nenhuma reação. Era como se estivessem em lugares diferentes estando no mesmo lugar. Naquele contexto, compreendeu que eram somente ela e sua avó.
A senhora de cabelos grisalhos era a mesma que a de 7 anos atrás: alva, bonita, simples, que apesar do choro, ainda conseguia exibir o mesmo sorriso singelo em um dos cantos da boca. Sorrir era o que ela fazia de melhor.
‘O que acontece, vó? A senhora não sabe como me entristece olhar seus olhos marejados com estas lágrimas. Me diz o que posso fazer para ajudar?’ E a avó não respondia, não falava sequer uma palavra. Só observava, só olhava um olhar distante.
Então, a garota levantou-se erguendo os braços para a velha senhora. E a abraçou fortemente passando a mão direita sobre os seus cabelos lisos. ‘Como sinto a sua falta vó. Como sinto..’
‘Minha filha. Minh.. Você acabou pegando no sono. Pensei se te deixava descansar um pouco mais ou se te acordava para estudar para sua prova. Optei pela segunda opção.
Ah! Sem problemas, mãe. Preciso mesmo terminar alguns exercícios e ir muito bem nesta prova de hoje. Foi bom você ter me acordado. Obrigada mesmo. Vou ao banheiro jogar um pouco d’água no meu rosto.'
Naquele momento, em frente ao espelho, a garota pôde sentir alguém deslizando a mão em seus cabelos cacheados. E tudo de repente fez sentido. Aquela que chorava por um instante de sonho era ela traduzida pela imagem da avó que pedia por socorro, talvez por desamparo, talvez por cansaço, às vezes por medo. ‘Minha avó está aqui. Sinto. Minha avó está aqui para me consolar’. Abaixou a cabeça, fechou os olhos e sussurrou aquilo que sempre dizia quando a via: ‘A tua benção, vó’. E só conseguiu ouvir a voz dela, como há 7 anos, com a mesma doçura, e com o mesmo tom apaziguador: ‘Deus te abençoe, minha filha!’